Meu deus vem olhar,
Vem ver de perto uma cidade a cantar,
A evolução da liberdade,
Até o dia clarear...
(Chico Buarque e Francis Hime - Vai Passar)
Tenho acompanhado a construção da Parada LGBT de São Paulo, ora pelas redes sociais, ora pela mídia. Chama atenção a quantidade de críticas, vindas de tudo quanto é canto sobre a Parada. Uns alegam que as bandeiras estão erradas, outros que a Parada virou um evento festivo e despolitizado. Alguns dizem que muita gente não sabe o que está fazendo na Paulista no dia, estão lá por oba-oba, que a Parada se vendeu para os clubes, e que atualmente ela não consegue dar resposta aos anseios do movimento LGBT.
Fico pensando aqui com os meus botões então, sobre qual é realmente o papel da Parada de São Paulo e das outras Paradas que estão crescendo no país inteiro, e também sobre qual é o nosso papel nessa história toda.
Entendo que pensar no papel da Parada é também pensar em como é a Parada e em como ela é construída. Por fim, e acho que o mais importante é pensar um pouco mais sobre a militância no movimento LGBT.
A Parada é organizada pela Associação Parada do Orgulho GLBT, mas a mobilização da Parada não é só dela, a mobilização é feita pelos mais diversos setores da sociedade que são simpáticos às nossas reivindicações ou são contra o preconceito.
Durante todo o mês de junho, nos dias que antecedem a Parada, são realizados inúmeros eventos que discutem assuntos relacionados à comunidade LGBT, tratando de assuntos como direitos civis, saúde, preconceito, emprego, economia, entre tantos outros e envolvendo segmentos e instituições.
Penso que militância, politização, luta por direitos, tomada de consciência se faz é diariamente, a todo o momento. Não sou gay só na Parada, não luto contra a Homofobia só no dia do Orgulho Gay, aliás, freqüento pouco a Parada.
Lutar contra a homofobia e pelos direitos civis dos homossexuais é uma atividade cotidiana, é um debate que deve ser realizado constantemente na família, no trabalho, nos sindicatos, nas escolas e universidades, nos espaços públicos, nos meios de comunicação, ou onde quer que estejamos.
Passa por ampliar nossos horizontes, diversificar nossas bandeiras, nos relacionar e apoiar outros segmentos, como o movimento de mulheres, negros, direitos humanos, entre tantos outros. Passa por identificar as mais diferentes formas com que o preconceito se manifesta, em casa, no trabalho, na mídia, e no discurso fundamentalista que atualmente paira sobre a República, e que muitos de nós adotamos.
Politizar a Parada significa cobrar e pressionar o Poder Público para que crie políticas públicas que incluam, que combatam a homofobia e não mais legitimem o preconceito e a discriminação. Políticas Públicas que não façam propaganda de “opções sexuais”, mas que garantam o direito de ser diferente e que não sejam tratadas como moeda de troca no Congresso.
Politizar a Parada é questionar diariamente a mídia conservadora, e o espaço que ela tem dado aos grupos fundamentalistas existentes no Brasil, é dar combate à disseminação do ódio.
Politizar a Parada é nos politizarmos, pensar em formas de combater o preconceito e fazer com que mais pessoas evoluam a ponto de perceber o mal que o preconceito faz ao nosso país. É enfrentar os nossos próprios preconceitos, olhar para o outro e perceber que ele é tão ou mais vítima do que eu, e por ele lutar também.
Para mim, politizar a Parada é compreendê-la como um instrumento poderosíssimo de mobilização, que tem a nossa cara, que comporta mulheres, homens, gays, lésbicas, travestis, transexuais, héteros, magros, gordos, negros, brancos, deficientes, cristão, macumbeiros, pintosas, barbies, ursos, fashionistas, baladeiros, funkeiros, pagodeiros, as minas e os manos. Todos que são contra a homofobia e combatem todo e qualquer tipo de discriminação são bem vindos à Parada.
Não é a Parada quem vai dar resposta aos nossos anseios, somos nós, no dia-a-dia, quando compreendermos a Parada e todo movimento LGBT como luta por democracia, como luta por um país justo que garanta a todos e todas os direitos fundamentais previstos na Constituição.
Acredito que a Parada tem que ser diversificada como é o próprio movimento LGBT, se muitos estão lá para festejar. Que festejem! Como disse lindamente o Chico Buarque sobre aqueles que foram oprimidos e lutaram pela redemocratização do país: “E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval”.
Bora ocupar a Paulista!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFlavio, concordo plenamente com a politização da Marcha. Mas acho que nesse momento, sendo uma festa ou não é fundamental ir. É importantíssimo colocar 1 milhão de pessoas na rua numa parada LGBT para mostrarmos para todos que fazem marcha das família que somos muitos e não iremos baixar nossas cabeças. Mais um ótimo post!
ResponderExcluir