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domingo, 24 de julho de 2011

Homofobia é crime, sim, e basta - Por Luiz Caversan



Chega de meios termos: homofobia é crime, sim.
Se não está previsto em lei ainda é porque nós somos atrasados em tudo ou quase.
Se ainda não existe um movimento consistente, maduro e efetivo contra as barbaridades que se cometem em nome do "eu não gosto do jeito que você leva sua vida" é porque somos acomodados, para não dizer acovardados, na ideia arcaica de que afinal este é o velho e bom país da cordialidade. Balela.
Vivemos num tempo de retrocesso e assistimos calados ou apenas manifestando nosso pasmo a uma inédita escalada da violência.
Violência típica da idade média.
Ou haveria época mais sinistra em que um pai tem a orelha decepada (deve estar em alguma prateleira de troféus...) porque estava abraçado ao filho e foi "confundido" com um gay?
Progredimos tanto para chegar a isso?
Este episódio foi tratado pela imprensa em geral com rara insensibilidade, como uma banalidade do dia-a-dia, ou, no linguajar dos boletins de ocorrência de antigamente, como uma "desinteligência".
Não, foi barbárie mesmo!
Ah, os caras antes de descer o cacete perguntaram a pai e filhos se eles eram gays. E os coitados nem eram!
Ou seja, se fossem, tudo bem?
Mesmo que os animais tenham partido para cima desses dois infelizes porque não gostaram da cor da camisa que eles estavam usando, ou por causa do corte do cabelo, o "grito de guerra" foi anti-gay e certamente partiu da velha máxima de que "viado tem mais é que tomar porrada".
Um garoto quase fica cego na avenida Paulista agredido com uma lâmpada fluorescente, um rapaz perde os dentes na porta de uma boate por causa de um soco inglês, outro é esfaqueado sem nem saber de onde nem porque, agora aparece este "caçador de orelhas".
O que mais?
Eis onde nos encontramos, senhoras e senhores, em plena idade das trevas, acessível pelo seu smarth-phone, Ipad ou por sua televisão de led 3G.
Aproveitem!
_______

Li esta semana a seguinte frase:
"Em um ambiente de informação eletrônica, as minorias não podem mais ser contidas nem ignoradas. Pessoas demais sabem coisas demais umas das outras. Nosso novo ambiente nos compele ao engajamento e à participação. Tornamo-nos inapelavelmente envolvidos, e responsáveis, uns pelos outros."
Tudo a ver com esses tempos "modernos" de altíssima tecnologia aproximando inevitavelmente as pessoas e criando novos códigos morais, éticos e comportamentais, certo?
Só que a frase é do canadense Marshall McLuhan, que se vivo fosse estaria completando 100 anos. E foi publicada em seu clássico "O Meio É a Mensagem", de 1967.
Gênio.
__________

Aos leitores que se comoveram com a história do motoboy aqui relatada na semana passada, encontrei novamente o rapaz. Ele continua na sua luta, mas está procurando o apoio da Fundação Dorina Nowill para Cegos, uma das melhores instituições brasileiras do gênero. E que, aliás, fica pertinho do ponto em que ele pede esmolas. Aqueles que quiseram enviar dinheiro a ele, sugiro que o façam por meio de doação à fundação, clicando aqui: www.fundacaodorina.org.br.



Luiz Caversan, 55 anos, é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha.com.




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